Acho sempre válido lembrar que eu não tenho a menor intenção de dramatizar histórias do passado, pois assim como a Myllena, eu tenho consciência das minhas superações, vitórias e privilégios atuais, mas inevitavelmente, o passado também constituiu quem a gente é hoje e essas vivências nos trazem esse tipo de reflexão e consciência.
Dito isso, sigamos...
Apenas citando os últimos episódios: isso aconteceu quando comprei um toca discos novo, quando troquei o tapete da sala e quando eu precisei de opiniões externas porque estava me achando meio babaca por querer aproveitar uma liquidação para comprar uma bota que eu sonhava há váaarios anos...
Coincidentemente, dias depois do reel, apareceu esse post da Pâmela, do @façoascontas no meu feed com um recadinho escrito a mão que dizia o seguinte:
"Para quem vem da falta, primeiro o dinheiro precisa tapar o buraco, para depois começar a fazer volume."
E não, esse não vai ser um post sobre finanças -até porque, nitidamente, não estou apto a falar sobre (pode seguir a Pâmela porque ela é ótima nessa função)-, mas para chegar onde eu quero, seria inevitável falar sobre a coincidência desses dois posts (relacionados ao tema que tem sido a pauta principal da minha terapia nas últimas semanas) aparecendo pra mim num curto intervalo de tempo...
Seria bem complexo tentar explicar, mas ao falar na terapia sobre como essas faltas do passado foram internalizadas na minha história, eu entendi que elas evoluíram e se transformaram num medo que tá entranhado na minha existência de forma que, em vários momentos, sufoca e me leva a essa sensação de culpa por estar fazendo algo de bom por mim, como se eu não merecesse.
Pesado, bem pesado...
Nos treinos que se seguiram, um lapso de consciência me ajudou a perceber o absurdo que é eu considerar ok passar 2 horas acordado no meio da madrugada -finalizando uma ilustração ou editando um vídeo, por exemplo-, mas achar que seria demais dedicar duas horas do meu dia a fazer algo pela minha saúde (para poder trabalhar mais e melhor, inclusive -olha o looping da incoerência aí...), tendo em vista que eu voltei aos treinos exatamente para melhorar neste ponto, já que tive várias crises de dor na coluna e nos braços no ano passado.
E foi assim que eu passei dias sem parar de pensar sobre como a gente tem invertido a lógica e usado uma régua alheia e injusta para medir o uso do nosso tempo, supervalorizando os momentos dedicados ao trabalho (por mais que estejamos exaustos, parece que nunca é o suficiente e a gente precisa se doar sempre mais) e minimizando a importância do tempo dedicado à saude, ao lazer e ao autocuidado.
Dali por diante, eu comecei a observar onde mais eu estava metrificando meu tempo com essa régua maluca e a conclusão é que eu tenho um carrasco interno me cobrando algo quase o tempo todo (rindo de nervoso).
Exemplo: dias atrás, percebi que não apenas estava me podando, como também me julgando por usar um tempo do meu dia para pesquisar online por um novo disco...
Sabe a história do disco do Chet Baker que eu jurava que tinha, sem nunca ter comprado? 🙈
Então, fui pesquisar pra encontrar um bom, com o melhor preço e, do nada, as conversas na minha cabeça eram assim:
"-Como assim, você tá gastando tanto tempo do dia (alguns minutos) nisso?O pior é que essas "conversas" não são diálogos, mas monólogos, onde a vez de fala seria apenas do "acusador" e minhas vontades vão ficando acuadas porque, afinal, hobby e lazer são apenas "gastos" e "desperdício de tempo", né?
-Mais um disco? Vai gastar dinheiro nisso aí mesmo? Então tá, né... cada um sabe o que faz 😒"
Cê consegue entender o ponto?
Conseguiu se identificar com isso de alguma forma?
-Pro seu próprio bem, espero que não, rs.
Eu cresci ouvindo da minha mãe -que tava sempre uma pilha de nervos e cansaço, limpando a casa o dia inteiro-, que dona de casa não tem tempo para descanso, pois em casa sempre tem algo para fazer (com isso, ela deixou de aproveitar os poucos momentos que tinha dentro de casa com a gente, pois o trabalho doméstico tava sempre acima de tudo).
Provavelmente, ela replicava isso por ter ouvido da minha vó, que ouviu de minha bisavó, sendo que elas (mulheres pretas) sempre trabalharam em casas de família desde muito cedo, ou seja, a gente sabe bem de onde vem essa sentença e o significado que ela carrega.
Por mais que eu já tenha conversado com a minha mãe sobre a falta de sentido nessa frase -na intenção de mostrar que ela tem, sim, direito a descanso-, hoje sou eu que me pego sentindo culpa nos intervalos de descanso e lazer no dia a dia, quer seja por uma ida ao cinema, quer seja por um cochilo no meio da tarde...
Infelizmente, esse não é um post otimista com desfecho apresentando solução rápida de guru da internet (tipo aqueles cursos que te ensinam a ficar milionário em semanas ou meses) sobre como eliminar essa "culpa", até porque, quando decidi ser bem honesto e aberto sobre essa sensação contínua, o fiz por saber que eu não tô sozinho e que mais alguém se identificaria -tanto no que sente, quanto no fato de não ter respostas para as perguntas que permeiam toda essa aflição.
Se você, como eu, ainda não leu o livro, de forma bem básica e resumida, ele fala sobre o excesso de estímulos e hiperconectividade que fazem parte da vida na cidade em nossos dias, onde tudo muda tão rápido que a gente sequer consegue elaborar.
Nessa busca incansável por produtividade -tanto no âmbito profissional como pessoal (tem que ter/fazer e tem que postar, pois, se não postar, não existiu)-, a gente perde a capacidade de reflexão sobre a nossa própria existência, se torna escravo das necessidades impostas pela vida cotidiana e passa a recriminar e demonizar o ócio, além de renegar o tédio...
Deu pra entender porque essa coleção simplesmente tinha que existir na b.math? |
Respeite seus limites e preserva aí essa cabecinha, combinado?
Quão livre você se sente?
Depois dessa enxurrada de desabafos (essa é a intenção do retorno do blog), deixa eu trazer pelo menos um band-aid pra você colocar aí nessa ferida que possa estar aberta por aí 😂...Mas sobretudo, eu acredito que a gente precisa aprender a aceitar que lutar pelo que nos faz bem não tem nada a ver com egoísmo!
-Obviamente, esse desafio não é uma imposição, pelo contrário: ele precisa ser leve e se você não conseguir fazer, tudo bem também (mas acho que se você tentar, tem chance de você se surpreender e gostar).
Pra finalizar, vou deixar aqui uma pequena lista de sugestões do que você pode fazer, caso consiga separar esse tempo pra você:
Fiz isso porque eu sempre adorei criar e compartilhar wallpapers aqui no blog e sei que muita gente adorava e usa alguns das antigas até hoje, então, bora renovar!
Tenho recebido muitas mensagens queridas e é esse tipo de coisa que motiva a prosseguir, além de dar uma noção se essa nova leva de conteúdos tá fazendo sentido, se tá no rumo certo.
Por hoje, isso é tudo.
Que março seja um mês leve -ou que, pelo menos, a gente tenha discernimento e força para lidar com as adversidades.
Bjs e até a próxima,
Math
Comentários
Postar um comentário