Hoje não é dia das mães mas eu não poderia deixar de falar da Dona Socorro por uma razão muito simples: antes de ser minha mãe, ela é um exemplo de mulher.
Acho que o mundo e a vida se encarregaram de tornar isso algo pesado e difícil para ela durante muito tempo, mas tenho orgulho da nossa relação totalmente aberta, que permite qualquer assunto, sem tabus.
Dona Socorro não concluiu o ensino fundamental, mas fez absolutamente tudo (e mais um pouco) para que eu conseguisse concluir o ensino médio e, posteriormente, me incentivou, apoiou e fez o que pode pare me ajudar a entrar na faculdade.
Falar sobre absolutamente tudo com Dona Socorro, a minha mãe, é algo muito significativo pois é através dos nossos diálogos sem barreiras que eu tenho visto ela se libertar de fardos que a oprimiram durante anos: eu cresci vendo minha mãe sendo agredida por um homem com quem a gente dividia o mesmo espaço e a tortura física e psicológica, somada à pressão que a religião impunha e o peso da responsabilidade de prover alimento, roupas e educação para duas crianças fez com que ela se anulasse. E ela se anulou tanto que no ano passado descobriu um problema grave no coração, que poderia ter sido diagnosticado mais cedo, mas a vida corrida não deixou.
Ela é quase uma personagem de novela: saiu do nordeste ainda moça; jovem, deixou um filho aos cuidados da avó e veio enfrentar a vida da cidade grande em Brasília.
Assim como tantas outras mulheres por aí, ela teve que disfarçar hematomas no rosto para não ser questionada pelos vizinhos e amigos e mesmo sentindo muita dor por dentro, por incontáveis vezes teve que sorrir para não deixar os filhos mais preocupados com o seu bem estar.
Hoje, depois de mais de 20 anos de sofrimento, ela tá se redescobrindo; não vive num conto de fadas, continua correndo nessa louca vida louca que todos vivemos, mas já não tem medo do homem que a fazia questionar durante a vigem de ônibus na volta para casa após um longo dia de trabalho se ela apanharia ou não.
Na verdade, ela já conseguiu colocar ele na parede algumas vezes, tirou dele algumas verdades que estavam disfarçadas pela hipocrisia de uma religião que oculta problemas gravíssimos e também já conseguiu despejar algumas verdades na cara dele, de forma altiva, literalmente empoderada, tirando um peso de seus ombros e deixando bem claro que não tem mais medo dele.
Eu precisava falar -mesmo que em resumo muito breve- sobre isso por uma razão muito simples: eu acredito que muitos dos problemas que temos ainda hoje no mundo se devem ao fato de não falarmos abertamente sobre eles.
Tem gente que acha que "empoderamento" é a palavra da vez e que já se banalizou, que tem mulher (feminista) que problematiza tudo etc, mas é exatamente o fato de o termo empoderamento estar tão em alta e de ter gente "problematizando tudo" que está ajudando muitas mulheres -como minha mãe- a sentirem que podem se libertar de seus cativeiros e enxergarem a vida sob uma nova perspectiva.
Eu não sabia exatamente o que falar hoje aqui no blog pra não correr o risco de cometer gafes, afinal, eu sei que dar "parabéns por ser mulher" é algo que está tão fora de questão quanto flores por flores, mas eu acho que a história da minha mãe é um exemplo e eu desejo, de coração, que tanto ela quanto minha irmã e minhas amigas tenham um futuro de mais igualdade, justiça e respeito, em todos os sentidos.
Pensando nisso, eu criei uma playlist que inspira força, liberdade e união, como forma de homenagear as mulheres da minha vida (todas vocês).
Obviamente, a playlist só tem músicas de intérpretes femininas e a mensagem se repete do começo ao fim: respeito, liberdade, força e igualdade.
Vocês são maravilhosas.
Por favor, não deixem que nada nem ninguém façam vocês se sentirem menos que isso!
Não deixem que ninguém diga o que é certo ou errado no seu corpo, nem que alguém faça você se sentir inferior ou presa e, acima de qualquer coisa, se ame.
"Por todas as mães que lutam
Por dias melhores que virão
Por todas as mulheres sentadas aqui agora
Que tem que voltar para casa antes do sol se por
Para todas as minhas irmãs
Cantando juntas
Dizendo:
Sim eu vou,
Sim eu posso"
Bjs do Math e até a próxima!
Bjs do Math e até a próxima!
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