11 mai. 15
SOBRE FAZER 26 ANOS...
Já faz algum tempo que eu sentia vontade de escrever esta "carta aberta" e esperei o momento certo chegar. Talvez não seja agora ainda mas eu prefiro acreditar que sim.
Eu sempre falo sobre ser verdadeiro e transparente e tento ser o mais real em tudo o que escrevo aqui, mesmo assim, isso não evitou que eu sentisse um certo medo da rejeição de algumas pessoas tempos atrás, mas eu venho tentando transmitir uma mensagem de forma subjetiva e preciso que ela fique clara para todas as pessoas.
Eu venho de uma família pobre.
Minha mãe saiu do nordeste e resolveu desbravar a "capital dos sonhos" depois de romper com meu pai quando eu era um bebê e foi aí que eu tive meus últimos momentos com minha avó, Dona Domingas, uma doce senhora que colocava discos de vinil pra tocar numa vitrola e sentava pra brincar comigo no chão.
Depois eu vim pra Brasília mas só via minha mãe nos fins de semana; nos outros dias eu ficava na casa de uma senhora que cuidava de mim e fui abusado sexualmente por mais de uma das pessoas que viviam lá.
Não pensem que foi fácil escrever essa última frase de forma tão objetiva.
Esse fato se tornou um grande trauma e complexo que fez de mim uma criança absurdamente tímida e complexada.
Mas não foi apenas isso: quando fui morar com minha mãe, convivi com cenas de agressão; meu padrasto batia em minha mãe, na minha irmã mais nova e em mim.
Confesso que durante um bom tempo meu coração tinha uma mancha de sentimentos ruins em relação à pessoa que nos agredia, mas eu sempre tive uma forma "fantasiosa" de ver a vida e isso me ajudava a passar por cada fase e cada cena ruim.
Minha primeira válvula de escape foram os desenhos: desde muito cedo eu adorava desenhar lugares fofos e personagens que se pareciam com os que via na TV com minha avó.
Tempos depois, aprendi a tocar violão e teclado e a música também me ajudava a "esquecer" dos problemas.
Mas quando finalmente me aceitei como gay e comecei a me relacionar com outras pessoas de forma mais íntima e afetiva, notei que os problemas do passado precisavam ser encarados de frente ou eu não conseguiria me entregar completamente a um relacionamento nunca e recorri à ajuda profissional, que me ajudou a encarar e conviver de forma positiva com meu passado.
Mas Math, porque você está falando de coisas tão tristes no dia do seu aniversário -que deveria ser um dia feliz?
Falar sobre um assunto tão delicado de forma aberta hoje é motivo de grande felicidade e liberdade pra mim, principalmente porque eu não me vejo como uma vítima, mas como alguém que conseguiu vencer um problema.
Não sei ao certo a razão de tudo isso ter acontecido comigo mas hoje sei o que eu quero e posso fazer com o passado: quero ajudar a criar um futuro mais bonito para o máximo de pessoas que eu puder ajudar.
Como? De duas formas:
1. Falando. Esse é o primeiro passo!
Queria aproveitar esse momento de total honestidade para dizer que meu maior presente na vida são as pessoas que me acompanham, me apoiam e me aceitam como eu sou.
À essas pessoas, tenho um pedido de presente de aniversário: vamos abrir os olhos pois existe uma realidade à nossa volta que não pode ser negligenciada!
Pedofilia e a agressão à crianças e mulheres é um problema que deixa cicatrizes profundas.
Por conhecimento de causa, eu sei que nem todo mundo lida de forma positiva como eu encaro os fatos do passado hoje; muitas pessoas sofrem com transtornos como a depressão por causa dos traumas de infância e precisam de ajuda.
A gente nunca imagina que isso possa acontecer na nossa família ou com pessoas próximas, mas preciso ser bem sincero e dizer que SIM, esse é um fato triste, porém real. Acontece e a gente precisa falar, porque essa é a melhor forma de conscientizar as pessoas e criar mecanismos de defesa mais eficazes.
2. Compartilhando amor.
Quando compartilhei aqui o postêr da Amélie, semana passada, falei sobre compartilhar coisas boas e sobre como uso meu trabalho para isso.
Pois bem: só pre deixar claro, minhas ilustrações (que podem parecer totalmente bobas e imaturas para algumas pessoas) são a forma que eu encontrei de resgatar a melhor parte da infância que eu não vivi e dizer ao mundo que há esperança e que a vida pode melhorar.
Eu pretendo continuar compartilhando essa mensagem aqui com vocês através de ilustrações e de posts que trarão sempre o meu melhor, mas não quero fazer isso sozinho.
Estou oficialmente convidando você que está do outro lado da tela a levar essa mensagem pra outras pessoas.
Abri totalmente meu coração porque já sentia há muito tempo necessidade de falar sobre esse assunto -por mais delicado que seja- pra ajudar outras pessoas que estão sofrendo ou passando por situações semelhantes às que vivi no passado e dizer que todos os males um dia passam e deixam a gente mais forte e que a esperança deve ser sempre nossa maior aliada na vida.
Pra finalizar, gostaria de agradecer mais uma vez todo o apoio e carinho que recebo de vocês através de email, das redes sociais e dos comentários aqui no blog.
Hoje estou comemorando 26 anos de vida com o coração cheio de felicidade e muito disso se deve à vocês.
Muito obrigado.
Bjs do Math!
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