"E se alguém te convidasse para uma viagem só de ida, o que você faria?
Entre borboletas, flores, fechos de luz e brisa suave, o Inverno 2015 de Pitanga abre caminhos para uma jornada em busca da verdade de cada um de nós, utilizando de forma poética a migração feita anualmente pelas borboletas monarcas para escrever o primeiro capítulo na história da marca, em que cada indivíduo é convidado a lançar mão do que o prende e intimida, enfrentando cada momento como se fosse o último, o que torna único.
A incerteza do amanhã pode ser assustadora para algumas pessoas, mas para quem vive para fazer do presente o melhor momento, o futuro é apenas uma possibilidade, pois é o agora que, de fato, importa."
Senta que lá vem história, rs...
O vídeo que você acabou de ver e o texto que você acabou de ler são um resumo da coleção que desenvolvi pro meu TCC: o vídeo é uma compilação editada por mim de partes extraídas do documentário "Wings Of Life", de DisneyNature, e o texto, o release, ou seja, um texto que traduz de forma poética, resumida e objetiva a linguagem empregada no desenvolvimento do processo criativo para que as pessoas tenham uma idéia mais clara do que se trata.
Como existem váááários aspectos a serem explorados pra explicar uma coleção, vou tentar explicar aqui os pontos mais importantes.
Como eu disse no post anterior, a coleção desenvolvida pro meu TCC teria que ser obrigatoriamente para o período outono-inverno de 2015. O tema era livre e eu escolhi a polinização como objeto de pesquisa e estudo depois de ver alguns trechos desse documentário maravilhoso na internet; fiquei tão encantado com as imagens que não poderia ser outro!
De forma mais abrangente, o filme mostra o processo de polinização sendo realizado por vários agentes polinizadores, entre eles, o vento, as abelhas, os morcegos, os beija-flores e as borboletas monarca, que foram as que mais me cativaram por diversas razões.
O documentário fala um pouco sobre a migração que milhões de borboletas fazem todo ano partindo do sul do Canadá rumo a região central do México, e quando fui pesquisar mais a fundo, descobri que elas fazem esse trajeto uma única vez, pois o tempo de duração dessa viagem é maior que o tempo de vida (na idade adulta) de cada uma delas, ou seja, elas procriam no meio do caminho e seguem sua jornada, mas nunca retornam ao ponto de origem. E aí eu me perguntei: se nenhuma consegue viver tempo suficiente pra regressar, como elas sabem de onde partir, para onde ir e como voltar, já que elas fazem o mesmo caminho ano a ano, mas sempre com um grupo diferente?
Foi procurando respostas pra essa pergunta que descobri que não há nenhuma teoria científica que comprove como isso acontece de forma concreta e definitiva, o que torna tudo mais mágico!
Outras coisas lindas sobre as borboletas monarca que me encantaram: elas se aglomeram nas árvores pra aquecerem umas as outras, tem uma coloração "brilhosa" utilizada como mecanismo de defesa para assustar e afugentar os possíveis predadores, pesam menos de 1 grama e ainda assim voam um dia inteiro usando apenas energia extraída de seu próprio corpo, cara! Incrível, não?
Mas a coleção não seria apenas sobre as borboletas. Eu queria falar um pouco sobre todo o processo de polinização que envolve também outros insetos e o vento. Pensei um bocado com meus botões e percebi que o que fazia a ligação entre todos os agentes polinizadores eram as asas, daí o nome da coleção:
Wings, que em inglês significa asas, seria uma forma interessante de traduzir as sensações que eu queria transmitir na coleção: leveza, mágica, imaginação, suavidade...
E assim foi: a coleção deveria ser para o período invernal, mas eu pensei no inverno de Brasília, que é super quente e seco, afinal, nossas estações do ano aqui são um pouco "desreguladas", e cheguei a conclusão óbvia de que a coleção deveria ser leve para fazer sentido. A tal leveza das asas, do vento e das borboletas passou então a fazer mais sentido e dar "liga à massa", o que me levou a priorizar a escolha de tecidos mais fluidos pra confeccionar as peças.
[Preciso mencionar que eu escolhi os tecidos seguindo a disponibilidade do mercado.
Aqui a gente tem muita dificuldade de encontrar tecido bom e barato, principalmente comprando em pequena quantidade; e inovação também não rola muito, geralmente a gente só encontra mais do mesmo, logo, eu calculei que não adiantaria inventar peças imaginando mil possibilidades maravilhosas se na hora H fosse barrado pela falta de material.]
Meu critério pra escolha das cores da coleção foi
Não sei em outras faculdades, mas aqui no IESB a gente tem que desenvolver uma coleção com 20 looks e executar 5. Os meus escolhidos para ganharem vida foram esses:
Algumas peças da coleção são levemente mais estruturadas, pra representar a fase inicial da vida da borboleta no período de encasulamento, o que está ligado com o público-alvo vivendo o momento da descoberta do desejo de ser mais verdadeiro e autêntico, que é quando a gente dá aquele start e começa a viagem em busca da tal da nossa verdade.
Assim como as borboletas seguem sua viagem apenas adiante, sem nunca voltar atrás, a proposta da coleção era estimular as "Light Daughters" (esse foi o nome dado ao público alvo. Tem um vídeo sobre elas aqui) a seguirem na jornada em busca da sua verdade sem regredir, evoluindo e sendo cada vez mais genuínas em seu universo particular e em sua relação com o mundo, o que culmina em peças mais leves e fluidas que representam a fase de libertação e a sensação de leveza que toca nosso interior quando conseguimos encontrar aquela autenticidade que tanto procuramos.
A coleção conta com bordados de flores em algumas peças pra representar um pouco desse "bosque" por onde passam e hibernam as borboletas, repondo suas energias para prosseguirem a jornada, bordados de insetos representando a sinergia presente no processo de polinização (que é realizada em conjunto pelo vento, as borboletas e os demais insetos) e que se reflete no senso de compartilhamento presente na vida do público-alvo da marca, nervuras, que foram a forma mais delicada e menos óbvia de representar as borboletas figurativamente, fazendo alusão aos filamentos de suas asas, além de babados, também utilizados pra transmitir a delicadeza das flores (que também aparecem em recortes feitos a laser).
O desenho a seguir é chamado de mapa de coleção, que tem como objetivo demonstrar a ordem de entrada dos looks na passarela, caso fosse realizado um desfile da coleção (fiquei sonhando com um desfile ao ar livre, em baixo de uma árvore com copa maravilhosamente grande). Pra ver com detalhes, é só clicar na imagem.
O Editorial
Agora vamos falar da parte mais legal de todas? -O editorial!
Produção de moda/styling sempre foi uma das minhas maiores paixões e quando eu tava muuuito estressado com o TCC (não comentei sobre isso aqui porque pretendo fazer outro posto só pra falar sobre os traumas), pensava no dia do ensaio, respirava fundo e continuava fazendo tudo sonhando com esse momento.Minha idéia pra campanha da coleção era criar uma atmosfera etérea, leve e, porque não, mágica, quase surreal. Em resumo, um bosque encantado (eita!).
Dentro da coleção, as borboletas representam o próprio público-alvo e eu queria que, de alguma forma, essa trajetória fosse representada. Então eu me apeguei ao fato de que as borboletas monarca vivem um momento de cada vez nessa jornada que elas mesmas não sabem quando irá terminar, o que também acontece com as Light Daughters, jovens mulheres que criam momentos marcantes no seu dia-a-dia.
Resolvi representar isso no editorial com o chá, que seria uma forma mais "simples" e viável de representar a idéia de "lapso" temporal, pois, quando sentamos pra tomar chá com aquelas pessoas que gostamos, simplesmente nos desligamos e aproveitamos aquela ocasião.
Digo por experiência própria; todo mundo que me acompanha sabe o quanto adoro chá, e pensei que essa seria uma forma de colocar a minha verdade e minha visão no material.
Todos os elementos usados nas fotos são meus (exceto a mala vintage linda, que peguei emprestada na Verdemanga. Obrigado, Graci!), o que era uma questão já decidida desde o início. O cenário também é um lugar que, apesar de público, é muito "meu": um pequeno bosque que fica logo atrás do meu prédio.
A árvore usada pra fazer a maioria das fotos é a mesma em que já fiz vários picnics e tardes de estudo com meus amigos. Muito amor envolvido? Sim ou com certeza?
[Posso compartilhar uma parte triste da história? Esse pequeno bosque está prestes a ser derrubado porque vão construir um novo prédio no lugar... Aproveitei a ocasião também pra imortalizar as lembranças desse cantinho que eu adoro.]
Em relação a beleza e styling, optei por make leve e iluminado, apenas reforçando a beleza natural das modelos, que por sua vez, são minhas amigas pessoais, outra questão importante no contexto do trabalho, pois eu escolhi meninas que me conhecem e com as quais tenho uma ligação afetiva pra vivenciarem aquela história, e não desconhecidas vivendo personagens inventados.
Pra evidenciar a relação com a natureza presente na vida das clientes da marca, achei que seria legal deixar as meninas descalças na maioria das fotos.
Sobre os acessórios, tentei fugir da solução (óbvia e já saturada) das coroas de flores.
Até acho que ficariam bem bonitas, mas recorri a minha amiga (e musa inspiradora) Flávia Dutra, que foi uma super parceirona e me cedeu umas lindezas feitas com todo amor lá da Baroque pra deixar minhas meninas ainda mais lindas e o resultado ficou maravilhoso.
A trilha sonora que me inspirou durante a concepção e produção do editorial (e que eu já ouvi 4038080983083 milhões de vezes mas não enjôo) é a música Woodland, da banda australiana The Paper Kites, uma das minhas preferidas da vida (amor demais, vocês não estão entendendo...).
A letra dela traduzida e o áudio estão logo abaixo, e, como sugestão, sugiro que vejam as fotos enquanto ouvem! ;)
Como a marca era um e-commerce, achei que o mais interessante seria criar um catálogo online, que pode ser conferido aqui em baixo. Além da diagramação específica, ele tem algumas fotos extras que não foram postadas aqui; pra ver em tela cheia, é só clicar no meio do painel:
Muita gente já me perguntou se não fiz vídeo. Infelizmente, a resposta é não.
Não parece nas fotos, mas no dia do ensaio estava muito nublado e ameaçando cair chuva a qualquer momento. Tivemos que fazer tudo "correndão" pra evitar que um pé d'água sinistro nos pegasse e destruisse tudo.
Quero aproveitar esse momento pra dizer a todos que estou indescritivelmente feliz com todo o carinho que recebi da minha família, dos meus amigos e seguidores (que também são amigos <3) durante todo o processo de elaboração desse trabalho e posteriormente.
Foram tantos elogios e mensagens lindas de incentivo que fico até constrangido.
Muita gente me diz que sou muito criativo etc, mas eu queria deixar bem claro aqui que a energia e o combustível do meu trabalho são o amor e o carinho, e é isso que recebo todos os dias e que me inspira, logo, tudo isso vem de vocês e se deve a vocês. Sei que parece muito clichê, mas é verdade, acreditem.
Recebi muuuitos comentários na página do blog e do instagram. Vou tentar responder todos ainda, prometo!
Muita gente me perguntou também quanto tirei no trabalho, e orgulhosamente posso dizer: Dez, galera! DEZ! Uhuuul!
Se você realmente gostou/se identificou com o trabalho e
Mais um milhão de vezes, muito obrigado por tudo.
Bjs do Math!
Ficha técnica do editorial
Fotos: Max Rocha
Modelos: Gabriela Franze, Lorena Loschi, Manuela Gomes
Make: Samantha Magno
Acessórios: Baroque
Styling e cenografia: eu
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