14 jul. 14
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Sobre Brasília e a cultura do isolamento
Estou acostumado a ver muita gente reclamando sobre a falta de opções eventos culturais em Brasília e se lamentando sobre o fato de que shopping é quase a única opção de lazer na cidade, mas aí, no começo de noite da última sexta feira, passei por uma situação que me fez refletir sobre a coerência desses questionamentos/reclamações. Se tiver em pé, dá uma sentadinha aí porque o papo hoje é um pouco mais prolongado, rs.
Apesar de estar sentindo muita dor no ouvido e com dificuldade pra respirar (por causa de uma inflamação na garganta), me arrumo, pego minha câmera e saio rumo à Verdemanga pra participar do #GAMEBAR, um evento tipo happy hour criado pela dona da loja, com totó, air game, petiscos e uma kombi de cervejas artesanais. Tudo bem bonitinho no estilo botequinho cool, como manda "a cartilha" da Verdemanga, com objetivo de reunir a galera pra trocar uma idéia e se divertir um pouco.
Chegando lá, apesar de quase sem voz, cumprimentei os rostos conhecidos, e também os inéditos, porque o mais legal dos eventos da verdemanga é isso: o clima é sempre de reunião entre amigos e a gente acaba conhecendo gente nova e bacana! Comecei a brincar em uma das mesas de jogos, mais gente foi chegando e o clima tava muito agradável (sério, vocês têm que participar pra sentir isso de perto!). Conversa vai, conversa vem, e, de repente, "A" surpresa da noite: em um piscar de olhos, quase 10 policiais estavam entre nós!
Fiquei sem reação, afinal, mal conseguia imaginar o motivo de todos aqueles moços uniformizados estarem ali; logo, um deles pergunta quem é o responsável pelo evento e diz que recebeu uma denúncia de alguém que estava se sentindo incomodado com o evento.
E aí eu fiquei mais incrédulo e confuso ainda: como pode um evento num início de noite, em plena sexta-feira, sem desordem e sem barulho excessivo estar incomodando alguém?
Após alguns instantes de conversa e depois de analisarem o local, os policiais perceberam que não havia absolutamente nada de errado no evento que acontecia na calçada da loja, na mais perfeita calmaria, apenas com gente de bem, sem nenhum vestígio de confusão ou coisas ilícitas, e se foram.
Aí eu volto ao ponto inicial deste post pra fazer uma pergunta, esperando que, talvez, alguns de vocês possam me ajudar a encontrar uma resposta: como pode, numa cidade tão nova, sendo a capital do país e carregando o título de patrimônio cultural da humanidade, a gente enfrentar esse tipo de dificuldade pra colocar em prática eventos que promovam interação, troca de idéias e disseminação de cultura?
Acho difícil encontrar uma resposta plausível!
Vejo muita gente dizer por aí que o brasileiro é um povo feliz, caloroso e receptivo, mas não é exatamente isso que eu presencio quando digo bom dia na padaria e recebo uma cara de poucos amigos em troca, ou quando peço um lanche no fast food da esquina ou na praça de alimentação do shopping e sou tratado como se estivesse implorando por um pedaço de qualquer coisa pra comer; o mesmo acontece quando sou convidado a participar de alguns eventos, e as pessoas não esboçam a menor boa vontade em interagir com quem está por perto. E não é só isso... essa lista poderia continuar por horas a fio, porque percebo que, por uma questão cultural (atrelada ao gigantismo do projeto arquitetônico de nossa cidade, creio eu), a galera daqui sempre foi adepta do isolamento (tenho péssimas memórias de infância por não ser aceito em nenhum grupo) e as pessoas estão cada vez mais amarguradas e solitárias em nossa cidade, mesmo que dentro de seus grupos.
Sobre o ocorrido no evento, comentávamos ainda na sexta que se a mesma situação estivesse acontecendo em outras cidades, haveria uma grande possibilidade de a pessoa que fez a denúncia estar participando do evento e se divertindo com a galera ao invés de perder seu tempo fazendo uma reclamação na central da polícia (que tem coisas muito mais sérias pra resolver, diga-se de passagem!).
Gostaria de deixar bem claro, também, que, em respeito à opinião alheia, compreendo que a pessoa que fez a denúncia está em seu direito de reclamar, mas a denúncia seria apenas a ponta do iceberg. Há muito mais por trás dessa oposição a eventos legais e pessoas felizes!
Tendo esse espaço como um veículo para comunicar minhas idéias e opiniões, gostaria de convidar vocês, meus amigos e leitores que gostam de viver novas experiências, a refletirem comigo sobre o ocorrido e sobre o que queremos do lugar onde vivemos: uma atitude positiva deve partir de cada um de nós, se quisermos uma mudança, mesmo que a médio ou longo prazo.
Isso inclui valorizar o que é nosso, sair da nossa zona de conforto, guardar o nosso preconceito numa caixinha (mesmo que seja só as vezes) e sair em busca de novas relações, novos gêneros musicais, novas cores, novas modelagens de roupas, novos horizontes...
Com esperança de encontrar mais gente disposta a sair de suas bolhas, me despeço por aqui, desejando a todos uma semana linda a todos.
Beijos do Math!
P.s.: as fotos usadas para edição deste post são de um editorial de 1963, clicadas pelo incrível Melvin Sokolsky para a Harper's Bazaar. Mais atual do que nunca, hein?!
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