Uma das coisas mais legais de se trabalhar como personal stylist é conhecer as pessoas como realmente são, se aproximando mais intimamente do ser humano. Confuso? Explico: a gente trabalha com a imagem, ou seja, o exterior, mas pra conseguir melhorá-la e ter clientes felizes e satisfeitos com o resultado da consultoria, há todo um "estudo psicológico" do que está além do closet. A fase inicial de cada consultoria consiste em entender com quem estamos trabalhando para criar combinações e looks que se adequem à realidade e ao dia-a-dia de cada um, e, pra chegar a esse ponto, a gente conversa, ouve, observa e chega até determinado ponto de intimidade que, às vezes, nem mesmo a melhor amiga conhece: os "defeitinhos". O consultor de imagem é aquele profissional com quem você se abre, mostra e fala sobre o que você mais gosta e o que menos curte no seu corpo, aquela partezinha que você adoraria que fosse diferente...
Mas de onde vem essa vontade de aumentar ou diminuir algo em nosso próprio corpo que é tão presente nos dias de hoje? Desde quando "isso ou aquilo" começou a incomodar?
Às vezes me pergunto sobre quando viramos escravos de nós mesmos, de todas as dietas do mundo e de um número menor na etiqueta da calça, e, voltando lá no comecinho do post, reafirmo que entre as delícias de se trabalhar com consultoria de imagem está a possibilidade de fazer as pessoas se sentirem mais felizes ao entenderem que o correto é a roupa servir em você, não você servir nela, e é sobre isso que queria falar um pouquinho hoje.
Na semana passada, uma das minhas clientes me mandou um link pelo facebook que me encheu os olhos e me deu uma vontadezinha automática de escrever este post: tratava-se de uma matéria falando sobre a mais nova campanha da Aerie, marca de lingerie pertencente à rede americana American Eagle, famosa por criar peças com excelente ergonomia e valorizar o corpo com seu caimento impecável (inclusive a "silhueta da brasileira", com quadris mais largos). O que havia de tão fascinante nisso? O fato de que a campanha traz mulheres reais usando as peças da nova coleção, em fotos com zero photoshop. Tava tudo lá: a beleza, as gordurinhas, as marquinhas, os sinais e as verdades. Fiquei tão emocionado que meus olhos brilharam, literalmente!
Quem me conhece de perto sabe o quanto sou apaixonado pela diversidade e adoro a combinação moda + pessoas reais (esse, inclusive, é o motivo da existência deste blog), e ver uma campanha como essa me deu um pouco mais de gás por saber que existe mais gente por aí pensando como eu.
Já comentei algumas vezes sobre esse crescimento do mercado plus size no Brasil, que, pra mim, é um grande motivo de frustração -por um lado-, ao ver o quanto algumas marcas apenas seguem seu instinto capitalista e abrem lojas que vendem peças pra magras em tamanho extra grande. Não é assim que deveria ser, e esse é o motivo da minha indignação: ao falarmos de corpo, curvas e medidas, estamos falando AUTOMATICAMENTE de pessoas, sentimentos e complexos, e tudo isso deve ser pensado com muito carinho, desde a etapa inicial. Se queremos conquistar uma nova fatia de mercado, ok, mas façamos um estudo sobre tecidos, modelagens, estampas, detalhes, tudo o que fica melhor pra essa galera, e só depois de muita análise feita com carinho, abramos as portas. Usei plus size como exemplo, apenas, mas o mesmo se aplica também aos novos idosos, que estão cada vez mais jovens e não querem vestir o mesmo que seus antepassados vestiam ao chegar a terceira idade, as pessoas com deficiências físicas, os extremamente magros (como eu já sofri por apenas achar roupas que pareciam saco em mim)...
A indústria da moda sempre teve fama de fútil e sem relevância, mas eu acredito, sim, no nosso poder de transformação em qualquer área de atuação ou linha de raciocínio, por experiência pessoal, e creio que quando começarmos a nos expressar e usarmos nossa voz pra impor nossos desejos, o mercado terá que se adequar. Sabe o trabalho de formiguinha, cada um fazendo sua parte? Então, é bem isso!
Espero que este texto sirva como um pequeno gravetinho para o nosso grande formigueiro, e que você carregue também seu graveto ao refletir sobre sua auto-imagem e procurar uma roupa nova na sua próxima compra -que se adeque ao seu corpo de forma que te faça sentir mais feliz.
Com as palavras da Aerie, me despeço hoje:
É hora de mudança. Sejamos reais, pensemos de forma real. Pensemos em nós mesmos, de dentro pra fora e nos aceitemos, pois a beleza real dispensa retoques.
#TeamAerie
Beijos do Math!
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